quarta-feira, 14 de julho de 2010

Cotidiano Fantástico #2: Big-Bang

Nesse momento Richard encontrava-se parado, a despeito, é claro, do fato que o mundo girava e que, por intermédio de alguma força invisível, seus passageiros moviam-se com o mundo sem, por exemplo, perder-se no espaço sideral. A ciência pode até explicar e dar nome a essa força, mas a falta de deslocamento em que se encontrava Richard acontecia, talvez, por razões alheias a explicações cientificas.

Uma fila, aparentemente comum, poderia se tornar a alegoria da criação de um novo universo. Enquanto o “nada” acontece, um agudo sinal eletrônico indica o momento da revolução, um pequeno passo para frente, um grande passo para a humanidade e para a econômia mundial. A verdade era que Richard mantinha-se preso a sua condição de quase-inércia devido a uma questão monetária, queria pagar as contas atrasadas com seu suado dinheirinho de fotografo “freelancer”.

No entanto, o limiar que levava ele e todos os mortais contidos entre as linhas amarelas pintadas no chão, mostrava-se bastante tedioso. Talvez um grande Big - Bang fosse necessário a esse “microverso”, talvez se alguem pulasse as barras de segurança da Unifila e violasse sua autoridade suprema, um golpe de estado seria possível.

Para desgosto de suas fantasias revolucionárias, o centro gravitacional da fila ia alem das barras de organização que formavam os corredores imaginários e alem da necessidade individual de cada um. Aparte dessa estrutura existiam homens uniformizados, parrudos seguranças, que iriam fazer vista grossa a qualquer movimento não calculado. Isso, no minimo, causaria um enorme constrangimento em algum fura fila.

Mais um “beep”, mais um passo, e Richard sente sua massa sendo multiplicada pelo decorrer do tempo. Todos os dez minutos que perdera naquela realidade, agora o faziam se perder em qualquer detalhe visual, por mais estupido que fosse: o banner de propaganda da agencia bancária, o excesso de maquiagem no rosto da menina no caixa, a plaquinha de “não fume” no cantinho da parede e o joanete da senhora parada a sua frente, não...o joanete não, unhas carcomidas e esmalte roido.

O chão mal varrido só aparenta limpeza no odor perpetuo de desinfetante de Limão, como a via láctea, uma mancha que circunda as estrelas, é o rastro das fragrâncias que se misturam no ar, e num instante não há mais fragrância, não há mais cheiro, não há mais ar. O aglomerado de pessoas nesse cubículo catapulta Richard para fora da atmosfera, em direção ao sol, ou para fora da tranquilidade, com um ataque de pânico.

“Beep!”, mais uma vez, o sinal eletrônico alerta que o universo está em mudança. Enquanto a humanidade da um passo a frente na sua evolução, Richard adquire a incrível habilidade de voar e desprender-se das amarras gravitacionais daquele universo. Voara, sem peso nem massa, por cima das barras que delimitavam a fila, e para longe do olhar desconcertante do segurança de banco, que ligeiramente pôs a mão no coldre da arma e tentou manifestar sua força gravitacional, mas Richard já sumia porta a fora do banco, deixando a esperança num próximo Big – Bang.

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