sábado, 7 de agosto de 2010

Cotidiano Fantastico #3 : Sacola - a - Jato

O fotografo Richard encontrava-se em um ambiente inóspito de seu cotidiano. Era natural do ecossistema de duas paradas de ônibus acima, agora, interditadas pelo reasfaltamento da via principal, que desembocava em muitos outros leitos de asfalto não tão importantes assim.

Por um número incerto de dias, ele teria de andar um bocado de metros a mais na sua rotina para poder alcançar a parada mais próxima e, se conseguisse, pegar o ônibus no horário que o prendia toda manhã.

Fenômeno do acaso, por várias vezes perdeu seu ônibus e enfrentou a quimera de esperar o destino, sem nada poder fazer quanto ao motorista que quase dormia no volante do coletivo e o fazia atrasar mais ainda a vida.

Nessas esperas, muito lhe admirava a rotina do “homem do saco”, um mendigo que insistentemente cruzava a parada todo o dia, as vezes falando com o vento, apressado, as vezes lento, sentava, puxava conversa com alguem que realmente existia, insistia em ser ignorado até receber alguns trocados e ir embora.

Não era estranho pensar como seguia a vida dessa forma, se debaixo de cada viaduto existe um louco, o homem do saco devia ter debaixo de algum pedaço de via um lugar para dormir, devia peregrinar por todas as paradas da cidade fazendo sua performance, trocando lixo seja por dinheiro ou drogas, ou apenas a loucura de se achar dono dos restos do mundo o fazia continuar essa jornada de desprezo. Para todos os efeitos, era mais um equilíbrio da balança social, todos naquela parada de ônibus seguiam seu destino, mesmo que atrasados, e o mendigo também o fazia, isso que mantinha a normalidade dos acontecimentos cotidianos.

Na última noite do último dia de seu martírio, Richard subia a via principal, finalmente reformada, mas ainda interditada até a manhã do dia seguinte. Alguns vestígios da obra sobravam no asfalto mas, fora isso, via-se o deserto seguir dentro da noite, o tapete negro pintava-se de amarelo apenas pela interferência das luzes do poste e do semáforo.

Do nada, a falta de vida do espaço foi quebrada, como num Big Bang, um mendigo vinha cruzando o plano da rua vestido de sol, numa lona prateada por sobre o corpo que refletia todo amarelo da luz notívaga, e costurava a rua em seus detalhes: tampas de garrafa, anéis de latinhas de refrigerante, embalagens de salgados, bitucas de cigarro, restos de qualquer coisa que se podia achar na dimensão da cidade. Mesmo ao longe, Richard reconheceu a figura que se posicionava no centro da via deserta, trazendo sua Sacola enorme nas costas, puxou um capacete prateado debaixo do traje e fixou-o cuidadosamente na cabeça, cuspiu no próprio dedo, estendeu-o aos céus para sentir o tempo e embalou-se dentro do saco. Richard parou por um instante, puxou sua máquina fotográfica prevendo o fantástico, e por mais que fenômenos do acaso o prendessem ao atraso do cotidiano, o trabalho de sua vida era não perder esse tipo de oportunidade.

O tempo parou, ou pareceu ter parado, de repente surge de dentro do saco um homem de armadura metálica, uma carcaça de ferragem, alumínio, um motor de motocicleta , antenas de tv, fios de poste, canos de escape que saiam pelos seu ombros e desciam até encostar no asfalto. A máquina tremia e estrondava mas era um homem que dominava a gigantesca turbina, com uma proteção feita das moedas que colhia durante o dia, o “Homem do saco”, como um guerreiro “steampunk”, virou pesado 180° e encarou o fotografo, estendeu o polegar direito, uma saudação que revelou o gatilho de inguinação da nave.

Tudo trepidava, até o dedo de Richard na câmera, o asfalto recente começava a rachar, e o que ele temia era uma iminente explosão a desencadear tripas e metal voando por toda parte, mas ele tinha que confiar no seu instinto, ele tinha que apertar o gatilho na hora certa....e ele apertou...



O dia amanheceu, Richard vinha descendo o plano da rua pensando mais uma vez no atraso do ônibus. Com a lente da sua máquina quebrada tinha que arranjar dinheiro para voltar a ganhar dinheiro, ou arranjar outro emprego, provavelmente pedir ajuda financeira para o pai, que lhe diria para arranjar outro emprego, o que já era um clichê.

A inexplicável cratera formada no meio da via principal ia levar um tempo para ser restaurada, pessoas recolhiam os destroços que ficaram na rua e a duas paradas de ônibus dali, um mendigo carregava nas costas um motor de motocicleta, uns canos de escape, e um capacete amaçado debaixo do braço.

Na parada, Richard viu o “homem da sucata” atravessar o outro lado da rua, e imaginou como era previsível o destino do acaso.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Paraíba Cine Senhor: Cine Hq

Paraíba Cine Senhor: Galeria: "Desenho 'perdido' de Megaron Xavier antes da ida para São José de Espinharas:"



Esse era pra ser um trabalho de documentação via Quadrinhos do Projeto Paraíba Cine Senhor...eu fiz essa primeira edição mas a idéia acabou não indo para frente...tinha muito trabalho e estres extra para seguir a regularidade necesséria...quem sabe ano que vem :¬)

PS.: A menina do quadrinho é a apresentadora do "Cine Jornal" Silmara Braz



PSS.: Projeto Paraíba Cine Senhor