Alice
caiu da ponte e morreu. Horas depois ela acordou e nadou até o outro
lado do rio, estava amanhecendo e ela lembrava muito bem os
acontecimentos da noite passada. Olhou para o rio e não viu seu
corpo, provavelmente agora ela era um espirito e seu corpo repousava
no fundo das águas.
Checou
os bolsos, não achou seu iphone, mas achou as chaves de casa e sua
bolsinha de trocados juntos com um flyer de propaganda de um show
qualquer. Sentiu vontade de ligar pra sua mãe, como espirito seria
no minimo uma experiencia engraçada assustar a velha, procurou o
orelhão mais próximo e ligou a cobrar. Um velho passou caminhando
com o cachorro e deu bom dia, Alice estranhou mas respondeu.
A mãe
atendeu e logo começou o sermão, Alice não entendeu “Mãe, eu to
morta já disse!”, repetia Alice e a mãe dizia que morta ou viva
voltasse logo pra casa se não ela matava! Não foi bem o susto que
ela esperava.
Alice
andou um bocado e começou a ficar cansada, o que era estranho por
que espíritos não se cansam, então decidiu pegar um ônibus.
Já
ficou meio óbvio que não se tratava necessária mente de ser um
espírito, teve que pagar a passagem, passar na roleta, e todo mundo
ficava olhando estranho pra ela pelo fato de estar toda molhada.
Quando
chegou em casa levou um rela, “que história era aquela de estar
morta?”, “mas eu to morta mãe! Esse é o tipo de coisa que
pessoas mortas simplesmente sabem”. A discussão não saiu muito
disso e sendo Alice oficialmente não-viva, ainda dava tempo de não
levar falta na faculdade.
Chegando
na aula 15 mim atrasada (deu trabalho tirar o cheiro de rio do
cabelo), a professora já tinha feito a chamada e marcado a última
falta restante para Alice perder a disciplina. Alice tentou persuadir
a professora e logo a argumentação virou um bate boca. Alice gritou
“quer saber? eu to MORTA! Eu não preciso disso!” e saiu furiosa
da sala de aula.
Não era
justo, todo mundo tinha sua hora, e justo na hora de Alice ela tinha
que não morrer? Nesse momento passou um cara todo engomado e apertou
sua mão dizendo “Deus te ama e tem um plano pra sua vida”, Alice
olhou pro céu e esperou cinco segundos pra Deus corrigir seu
planejamento e mandar um raio na sua cabeça, como não aconteceu,
ela gritou pro cara “Quer um spoiler? Deus vai te matar no final
seu idiota!”, nem com tamanha heresia veio o bendito raio.
Começou
a pensar em suicídio mas não era justo, morrer uma vez já era o
bastante, e tinha doído pacas! Ser atropelada pelo carro de um
playboy em alta velocidade, ter costelas quebradas e fratura no
crânio, ser arremessada 5 metros pra fora da ponte, cair mais 10
metros de altura e acertar água como se fosse concreto finalmente
quebrando o pescoço. Caramba, como isso dói!
Como
último recurso, Alice procurou no Google por algum motivo lógico de
não ter morrido. Alguns resultados interessantes surgiram, no Yahoo
respostas um cara dizia que era algum problema com o balanço da
energia espiritual do planeta Terra, ao lado da pesquisa abriu o
anuncio de um livro de autoajuda intitulado “Você não é um
Zumbi: Dez passos para tomar as rédias da sua pós vida”, um
portal de moda dizia que estar morto era a última tendencia na
Itália, mas o mais legal é que Alice encontrou uma rede social da
China só pra gente não-viva.
Mesmo
com tudo isso Alice não se sentia bem, ninguém sabia exatamente
como resolver esse problema, o ápice do espetáculo da vida tinha
sido um direito negado a ela, e era assim que se sentia.
No
impeto de deixar de existir Alice começou se desligar de todos os
seus amigos, deletou todas as suas contas da internet, fugiu de casa
e queimou suas roupas, rapou o cabelo e se fez livre de qualquer
outro objeto que a ligasse a qualquer outra coisa, se trancou numa
casa abandonada e ficou lá por alguns dias.
Depois de
uma semana, Alice caiu morta....de novo.
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