Era uma pausa rápida. Humberto não sabia, mas não devia deixar a água esquentar tanto, com a cara no vapor, tirou o bule do fogão. Preparou-se para o ritual, conservou esse vício de quando ainda era empregado da editora, agora pelo menos o fogão servia para alguma coisa. Nunca tinha aprendido as sutilezas da pequena culinária, seu café por exemplo, não era um dos melhores exemplos de café, mas cumpria sua função de manter a rotina, deixava o corpo desperto e aumentava o nível de açúcar no sangue, muito açúcar, era como Humberto gostava.
Derramou o liquido na xícara, por um momento ficou perdido em pensamentos, afundou a colher no pote de açúcar, fez tudo meio automaticamente, de forma distraída, olhava para as plantas com aquele olhar penetrante e vago ao mesmo tempo, quase que sendo devorado pelo nada, o fato de estar desempregado surtira um efeito negativo a uns tempos atrás, agora estava descobrindo que o trabalho como freelancer podia ser mais o seu perfil, fazia os desenhos em casa, de forma mais tranquila, podia fazer seu horário e ficaria tudo bem...o celular tocou.
Humberto atendeu na terceira chamada, andou coma xícara na mão pelo apartamento, a conversa iria ser longa, largou a xícara encima da estante, andou até a janela, ficou olhando os vizinhos enquanto continuava a conversa. Deu tempo da luz mover as sombras em alguns centímetros e mudar a cara da tarde, desligou o celular e pensou, era uma notícia, uma notícia importante que pedia uma decisão, uma mudança imprevista que não podia ser calculada e necessitava de um ponderamento. Humberto pegou a xícara na estante, voltou a olhar as plantas e tomou o café, estava frio, mas não tão frio que não conseguisse toma-lo e voltou aos desenhos, com a impressão de que tinha esquecido alguma coisa.
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